quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Coberturas.

Vestir-me.
O quê? Para quê? Para quem?
Qualquer coisa, não posso vestir. Para não ter frio, para não ser objecto de comentários desagradáveis. Um bocadinho para mim e um bocadão para os outros. Porque se fosse só para mim, então vestia qualquer coisa. Não me daria a ver a ninguém, por isso nem sequer me preocuparia em vincar as calças, escovar uma nódoa ou engraxar as botas.

Escrever.
O quê? Para quê? Para quem?
Qualquer coisa, não posso escrever. Para não destapar a minha intimidade, para não ferir susceptibilidades. Um bocadinho para mim e um bocadão para os outros. Porque se fosse só para mim, então escrevia sobre tudo o que me vai na alma. Não o daria a ler a ninguém, por isso nem sequer me preocuparia em corrigir as gralhas, eliminar as palavras repetidas ou reler o texto.

Aqui, os textos são o meu guarda-roupa. As palavras, se não forem do tamanho certo, vão apertar-me as articulações ou cair-me pelas pernas abaixo. A pontuação, essa, tem de ser aplicada com parcimónia, pois os acessórios em excesso podem tornar-me numa montra de bijuteria. Os erros têm de ser procurados à lupa e cosidos à máquina em costuras reforçadas. E o estilo, que tem de ser escorreito, pode umas vezes ser sóbrio e outras ornamentado, em função da ocasião. Só assim estarei apresentável.

Disse ela e muito bem; diria eu o mesmo da minha pessoa se soubesse definir tão bem o que me vai na alma.
Belissimo texto.

3 comentários:

Carracinha Linda! disse...

Bonito texto, sem dúvida!


Beijocas linda!

Anónimo disse...

Espectáculo! Onde foste tu descobrir esta pérola?!

Xinhus!

Carracinha Linda! disse...

vim aqui rapidinho antes de ir embora só para te desejar um super fim-de-semana!

Ah... e deixei-te um trabalhito lá no meu cantinho!

Beijinhos