quinta-feira, março 29, 2007

Flores para ti!


Conheci-te há uns 5 ou 6 anos atrás, não sei precisar...

Na altura namoravas com o Luís, eras 2 ou 3 anos mais nova do que eu, e das vezes que saimos todos juntos, como aquela vez na casa da banho daquele Bar magnifico no Cabo da Roca, na casa de banho (a casa de banho e as mulheres...
:-), questionavas-me sobre os homens no geral e sobre o Luís em particular.
Eu não conhecia o Luís muito bem, porque ele era um amigo de infância do meu marido, mas dizia-te que se gostavas muito dele tudo iria dar certo...
Eu dizia isto ferida por dentro, porque enquanto tu andavas feliz a viver uma bonita relação, o meu casamento afundava-se a passos largos.
O tempo passou, continuava-mos a encontrar-nos de vez em quando e meses depois o Luís deu-te um belo anel de noivado e pediu-te em casamento. Lembro-me bem de me o mostrares, e de eu to elogiar, era lindo. Eu de certa maneira fiquei com inveja, aquele inveja boa, não de estar infeliz por ti, mas sim, porque eu nunca tinha recebido um anel assim, aliás nunca recebi anel nenhum. Fica sempre aquele amargo de boca...

Passaram mais uns meses, e recebemos o vosso convite de casamento. Nessa altura o meu casamento já era só fachada, mas lembro-me de ti linda, feliz como qualquer noiva é. Para ti foi um dos dias mais felizes da tua vida, para mim um dos mais tristes. Lembro-me de ter tido uma discussão no carro a caminho do teu casamento, e de ter estado sentada á mesa, e andar por lá todo o dia, no copo-de-água, sem dizer uma palavra ao meu marido nem ele a mim...
Tu tão feliz, e eu imensamente só...

Mas a vida continuou...tu casada, feliz, passado um ano grávida do teu primeiro filho, algo que já não assisti, visto que nessa altura, já tudo tinha acabado para o meus lado, já o inferno tinha acabado de vez, já eu vivia sozinha.
Acho mesmo que a última vez que te vi foi mesmo no dia do teu casamento, já que obviamente quando as pessoas se separam não ficam só sem marido, namorado etc...

Ia sabendo noticias tuas de vez em quando pelo meu ex, já que fiquei com o triste karma de fica a trabalhar com ele no mesmo local...
Mas voltando atrás, a vida foi passando, e um dia há há um ano atrás encontrei o Luis num centro comercial. Falou-me da vossa vida feliz e disse-me que esperavas o segundo filho; fiquei contente apesar de já não te ver há muito tempo nem sequer nunca mais ter conversado contigo.
Afinal de todas as namoradas e mulheres de amigos do meu ex, acho que foi contigo que desenvolvi mais empatia, eramos parecidas de certa forma.

Tudo parecia correr bem, até ontem...

Ontem deram-se a noticia que num estupido acidente de automóvel, adormeceste ao volante e morreste.
Apesar de há 4 anos pelo menos não ter tido mais contacto contigo, fiquei muito chocada. Ninguém merece morrer, muito menos tu, desta maneira tão estupida que é os acidentes de automóvel. Tu que eras feliz, nova, com dois filhos pequenos para cuidar.
Fiquei muito chocada, e sei por experiência própria que vou andar aqui uns dias a "bater muito mal". Fico triste, chocada, revoltada, com a morte mas confesso que a morte violenta, sem ser esperada, em pessoas jovens, ou ainda relativamente novas, me choca muitissimo mais. Já passei por isso com o meu pai, com um colega de serviço que me fazia sorrir todos os dias, com as suas brincadeiras, e pensei seriamente que nunca mais passaria por uma experiência dessas, bastante traumatizante...

Mas a vida é como é, infelizmente...

Portanto, deixo aqui esta carta em tua homenagem, as flores e o desejo que estejas e fiques em bem, para sempre, onde quer que estejas.

Um beijinho, Ana Paula.



P.S. São estas e outras situações , mas principalmente situações deste tipo que me fazem pensar e reflectir sobre a precaridade desta nossa vida. Passamos muitas vezes a vida a aborrecermos-nos com coisas de nada, a stressarmos, a passar dias estupidos, mal aproveitados, e nunca pensamos que tudo pode acabar num segundo!!
Aquilo que nos faz mal, até poderá ser adiado por incapacidade nossa de lidar/aceitar/viver com os probelmas, mas aquilo que nos faz feliz, uma compra de algo que gostamos, uma ida ao cinema, uma viagem, o dizer a alguém que gostamos dela, este tipo de coisas nunca deveria ser adiado, devia ser realizado hoje, aqui e agora, porque no fundo o passado já lá vai, e o presente é a única coisa que temos certa.
Quem me conhece melhor, diz que eu tenho muita urgência em viver a vida, em não deixar para o dia de amanha, para o futuro os projectos que me trazem algum bem estar e felicidade que não tenho paciência para esperar, e que não pode ser assim; talvez a explicação para este procedimento se deva ao facto de já ter assistido a experiências destas demasiadas vezes.

5 comentários:

Shadows in Love disse...

Infelizmente a vida é mesmo assim, a morte não escolhe idades certas para morrer não escolhe as más pessoas para morrer, parece que acerta sempre onde não deve... e nós infelizmente só nos lembramos quando tudo acabou... uma história triste e marcante...

Aragana disse...

Fogo... nem sei que dizer. É como dizer "sinto muito" e ficar com a sensação de mal estar que nao se disse nada de jeito.

Cusca disse...

:((

Joana disse...

Há momentos na vida em que não existem palavras... porque ainda não lhes encontramos ou entendemos os seus porquês.
beijinho grande

Maríita disse...

Dividindo a tua carta em duas partes, uma primeira em que reflectes sobre o paralelismo da tua vida e da tua amiga, penso que estás a ver uma vida demasiado cor-de-rosa do lado dela, claro aparentemente as coisas estavam-lhe a correr bem, mas efectivamente não sabes porque não estavas lá. Por isso, pensa antes que a vida dela teve altos e baixos que é o mais provável.

Quanto à morte dela, é lamentável por tudo o que escreveste e sobretudo pelos filhos.

Espero que recuperes de mais esta perda e que voltes a sorrir em breve com candura.

Beijinhos